Ligatura
Galeria Ocupa, Porto 16 Out ~ 6 de Nov 2021 4 de Nov, 21:30, Espaço Mira, Porto: projecção de curtas-metragens e conversa com Marta Mestre. Em tipografia, ligatura é o traço que une dois caracteres. Nesta exposição, com direcção artística de Filipa Valente e Alexandre Teixeira, todas as obras apresentadas resultam de colaborações que vou mantendo com outros artistas: neste caso, Blanca Martín-Calero, Diana Sá, Igor Gonçalves, João Godinho, Leonor Keil, Nadine Khouri, Oxana Ianin, Surma, The Legendary Tigerman e Tiago Cutileiro. Texto de Filipa Valente abaixo das imagens. Trabalhos em exibição: |
La Ermita (2021)
Voz: Blanca Martín-Calero Música: The Legendary Tigerman Aparições de: Mateo Albergaria, Miguel Albergaria, Blanca Martín-Calero, João Albergaria, Renata Pimenta e Gonçalo Pinto Cor: Luis Costa Escrito e realizado por Eduardo Brito Produção: Bando à Parte Cor, 4’09’’, Super8/ HD, 1080P. Where’s Your Memory (2017) Voz: Nadine Khouri Texto e Montagem: Eduardo Brito Imagens: found footage Cor, 2’05’’, HD, 1080P. Ontem ou ainda agora (2021) Música: Igor Gonçalves Câmara: Luís Costa Realização e montagem: Eduardo Brito Cor, 4’45’’, HD, 1080P. Verde Cinza e Passo em Falso (2021) Com: Leonor Keil Música: Tiago Cutileiro [para quatorze instrumentos (excerto)] Câmara: Luís Costa Efeitos Especiais Carlos Amaral Guarda Roupa: Susana Abreu Direcção de Produção: Pedro Barbosa e Nuno Eusébio Direcção Artística: Sara Barbosa Realização e montagem: Eduardo Brito Feito para Mapa de Afinidades, Cão Danado Cor, 2’54’’, HD, 1080P. Logashkino (2021) Texto: Eduardo Brito Vozes: Oxana Ianin e Eduardo Brito Música: Surma Imagens: loc.gov, google, arquivo do autor. Cor, 5’12’’, HD, 1080P. A Desaparição de Ella Ekholm (2021) Texto e fotografia: Eduardo Brito Música: João Godinho [uma variação de Last Regrets, de Ryuichi Sakamoto] Cor, 2’40’’, HD, 1080P. Paisagem da Janela (2021) Com: Diana Sá Direcção de Produção: Pedro Barbosa e Nuno Eusébio Direcção Artística: Sara Barbosa Texto e realização: Eduardo Brito Feito para Mapa de Afinidades, Cão Danado Cor, 12’22’’, HD, 1080P. |
LIGATURA, 2021
por Filipa Valente
— Lembras-te?
— Lembro, ou talvez tenha sido um déjà vu. Já alguma vez sentiste que as tuas memórias recentes, as que estás a tecer neste preciso momento, são na verdade muito antigas?
— Já... E agora, lembras-te?
— Pensei que sim, mas talvez tenha fabricado uma memória com base num qualquer documento, uma fotografia ou uma notícia de jornal.
— Sabes como se constrói uma memória, coletiva ou privada? Como é que a história se cristaliza?
— A memória é como uma máquina de filmar, grava e recorda factos e ilusões. Julgo que precisamos da ficção para acreditar na realidade, é um paradoxo.
— Aquilo que vemos é a realidade?
— No fim, o que nós vemos vive somente dentro dos nossos olhos. O teatro, por exemplo, é sempre falso, como os mapas. “Um mapa tem sempre que distorcer a realidade”, de que serviria se em todos os pontos coincidisse com esta?
— Seria um assombramento Borgesiano
— Talvez
—Tens medo de fantasmas?
— Às vezes estou quase a adormecer e assalta-me uma e outra reminiscência, fantasmas provenientes de outras circunstâncias.
— Como se chama aquilo que é inesquecível e imemorável
— Trauma
Ligatura, s.f. O mesmo que ligadura. Tipografia, linha que une dois caracteres. Música, linha que liga duas notas num mesmo som, de modo que não haja silêncio entre elas.
Um fio de Ariadne conduz o espectador por uma coleção de histórias e memórias que liquidam fronteiras entre facto e ficção. Os relatos quase diarísticos dos sete vídeos de Eduardo Brito apresentados nesta exposição, levam o espectador a acreditar plenamente na sua veracidade, ao ponto de quase os confundir com a sua própria memória. A recorrente utilização da segunda pessoa do singular coloca o espectador numa posição ativa, até este sentir que conhecia Ella Ekholm, que viajou até a La Ermita, que dormiu mal ou deu um passo em falso.
Porto, Outubro de 2021
por Filipa Valente
— Lembras-te?
— Lembro, ou talvez tenha sido um déjà vu. Já alguma vez sentiste que as tuas memórias recentes, as que estás a tecer neste preciso momento, são na verdade muito antigas?
— Já... E agora, lembras-te?
— Pensei que sim, mas talvez tenha fabricado uma memória com base num qualquer documento, uma fotografia ou uma notícia de jornal.
— Sabes como se constrói uma memória, coletiva ou privada? Como é que a história se cristaliza?
— A memória é como uma máquina de filmar, grava e recorda factos e ilusões. Julgo que precisamos da ficção para acreditar na realidade, é um paradoxo.
— Aquilo que vemos é a realidade?
— No fim, o que nós vemos vive somente dentro dos nossos olhos. O teatro, por exemplo, é sempre falso, como os mapas. “Um mapa tem sempre que distorcer a realidade”, de que serviria se em todos os pontos coincidisse com esta?
— Seria um assombramento Borgesiano
— Talvez
—Tens medo de fantasmas?
— Às vezes estou quase a adormecer e assalta-me uma e outra reminiscência, fantasmas provenientes de outras circunstâncias.
— Como se chama aquilo que é inesquecível e imemorável
— Trauma
Ligatura, s.f. O mesmo que ligadura. Tipografia, linha que une dois caracteres. Música, linha que liga duas notas num mesmo som, de modo que não haja silêncio entre elas.
Um fio de Ariadne conduz o espectador por uma coleção de histórias e memórias que liquidam fronteiras entre facto e ficção. Os relatos quase diarísticos dos sete vídeos de Eduardo Brito apresentados nesta exposição, levam o espectador a acreditar plenamente na sua veracidade, ao ponto de quase os confundir com a sua própria memória. A recorrente utilização da segunda pessoa do singular coloca o espectador numa posição ativa, até este sentir que conhecia Ella Ekholm, que viajou até a La Ermita, que dormiu mal ou deu um passo em falso.
Porto, Outubro de 2021